''Não vai dar em nada?'' O assédio como o principal tipo de violência de gênero na Universidade Federal de Ouro Preto.

Abstract

Este trabalho tem como objetivo analisar a violência de gênero dentro das Universidades Federais mineiras, com foco na existência (ou ausência) de políticas institucionais voltadas à prevenção, acolhimento e enfrentamento dessa problemática. A pesquisa parte de uma perspectiva feminista decolonial, compreendendo que o ambiente universitário, embora idealizado como um espaço de emancipação e produção do conhecimento, ainda reproduz estruturas patriarcais, racistas e colonialistas que marginalizam e silenciam as mulheres. A metodologia utilizada combinou pesquisa documental e análise comparativa, com levantamento de dados realizado por meio da plataforma Fala.BR, permitindo a avaliação das ações implementadas por onze Universidades Federais de Minas Gerais no combate à violência de gênero. Os resultados evidenciaram que, apesar do porte e da relevância acadêmica dessas instituições, suas políticas ainda são frágeis, tardias e, em muitos casos, inexistentes. Verificou-se também que a subnotificação dos casos, o corporativismo institucional e a falta de financiamento adequado dificultam a responsabilização dos agressores e a proteção efetiva das vítimas. Conclui-se que, para que o enfrentamento da violência de gênero seja realmente eficaz, não basta a criação de normativas; é essencial transformar estruturalmente a Universidade, ampliando a participação de mulheres nos espaços de decisão, fortalecendo as ouvidorias femininas e garantindo assistência integral às vítimas. Dessa forma, este estudo busca contribuir para a reflexão acadêmica e institucional, reforçando a necessidade de uma Universidade anticolonial, feminista e antirracista, em que a equidade de gênero e o combate às violências sejam mais que um compromisso constitucional.