Aplicação de métodos geoquímicos e isotópicos na investigação da recarga do aquífero Bação, nos municípios de Ouro Preto e Itabirito - MG.

Abstract

A água subterrânea desempenha um papel crucial no abastecimento global, sendo um recurso essencial para a manutenção dos ecossistemas e das atividades humanas. O processo de recarga de aquíferos é influenciado por fatores geológicos, climáticos e antrópicos, que afetam a qualidade e a disponibilidade desse recurso. No Quadrilátero Ferrífero (QF), região de relevância econômica e ambiental em Minas Gerais, os sistemas aquíferos variam em composição e dinâmica hidrogeológica, sendo o sistema granito-gnáissico do Complexo Bação um dos principais para o abastecimento subterrâneo. Nesse estudo, a quantificação da recarga foi realizada com base no método do balanço de cloretos, resultando em valores entre 229,66 mm/ano e 672,67 mm/ano, com coeficientes variando de 16% a 40% da precipitação média anual. A análise isotópica (δ¹⁸O e δ²H) foi utilizada para inferência da origem altimétrica da recarga e identificação de processos atmosféricos associados à precipitação. Os resultados isotópicos indicaram que a recarga ocorre predominantemente a partir de chuvas em altitudes superiores, com mínima influência de evaporação superficial, conforme evidenciado pelos valores de excesso de deutério (d-excess) e pela depleção isotópica das amostras subterrâneas em relação às águas meteóricas locais. A composição hidroquímica indicou influência litológica sobre as águas subterrâneas, evidenciando diferenças entre zonas gnáissicas e granodioríticas. Os parâmetros analisados estiveram dentro dos padrões de qualidade estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 396/2008, sem indícios significativos de contaminação antrópica. Com base nesses dados, conclui-se que a recarga no sistema Bação é modulada por fatores geológicos, estruturais e climáticos, e que as abordagens isotópica e de balanço de cloretos se mostraram complementares para inferências sobre infiltração e percolação no contexto deste estudo. Estudos futuros poderão expandir a base de dados hidrogeoquímicos e isotópicos, integrando séries históricas de precipitação e variabilidade climática, a fim de aprimorar a compreensão da dinâmica hidrogeológica regional.