Associação dos padrões de crononutrição e consumo alimentar em residentes da região dos Inconfidentes/MG durante a pandemia da COVID-19.

Abstract

A crononutrição estuda a relação entre os ritmos biológicos e a nutrição, analisando como essa interação afeta a saúde. Fatores como o horário, a frequência, regularidade das refeições, distribuição calórica, além da janela alimentar, desempenham um papel importante na relação com doenças crônicas não transmissíveis e fatores de risco metabólicos. Embora ainda haja poucos estudos na área, as evidências indicam que comer em horários mais tardios pode estar associado ao excesso de peso, maior consumo calórico e pior qualidade da dieta. O objetivo do trabalho foi avaliar a associação de características temporais de crononutrição com o ponto médio calórico e com a qualidade da dieta em residentes da região dos Inconfidentes, Minas Gerais, durante a pandemia da covid-19. Foi realizado um inquérito de base populacional com coleta de dados domiciliar no município de Ouro Preto, entre outubro e dezembro de 2020 e em uma subamostra (n=195), um inquérito telefônico para obter informações quantitativas do consumo alimentar dos participantes por meio de recordatório alimentar de 24h. A variável explicativa foi crononutrição, que engloba: janela alimentar, comer noturno (≥22:00 horas), número de refeições e a omissão do café da manhã. As variáveis desfecho foram o ponto médio calórico (discreta) e qualidade da dieta avaliada por meio do Cardiovascular Health Diet Index (contínua). As associações entre as variáveis explicativas e o ponto médio calórico foram estimadas a partir de regressão logística. As associações entre as variáveis explicativas e o índice da qualidade da dieta foram estimadas a partir de regressão linear. As análises estatísticas foram realizadas no software Stata® versão 15.0 e no R®, versão 4.4.2. Os resultados mostraram que a omissão do café da manhã foi significativamente associada ao ponto médio calórico OR:3,93 (IC95% 1,20-12,83; p=0,023) e que indivíduos que concentram suas refeições em horários mais tardios (após 22h) tendiam a consumir mais calorias (1532,96 kcal versus 1495,45 kcal; p = 0,036) e uma maior quantidade de alimentos ultraprocessados (AUP) (301,56 kcal versus 232,69 kcal; p = 0,011) ao longo do dia, além de apresentarem uma maior propensão a omitir o café da manhã (53,85%), quando comparados aos que se alimentavam mais cedo . A qualidade da dieta foi associada positivamente ao número de refeições (β=6,26) e negativamente ao consumo de AUP(β=-0,01). Dessa forma, os achados sugerem que adotar hábitos como consumir a maior parte das calorias durante o dia, manter o café da manhã e realizar cinco ou mais refeições diárias podem favorecer uma melhor qualidade alimentar.