Variabilidade climática e ocorrência de queimadas no Quadrilátero Ferrífero : efeitos de El Niño e La Niña.

Abstract

As queimadas representam uma das principais formas de degradação ambiental no Brasil, sendo intensificadas por fatores climáticos e antrópicos. No estado de Minas Gerais, a região do Quadrilátero Ferrífero se destaca como área de elevada suscetibilidade devido à combinação de vegetação fragmentada, uso intensivo do solo e pressão urbana e minerária. Diante desse contexto, este trabalho teve como objetivo analisar a influência das fases do El Niño–Oscilação Sul (ENOS) – El Niño e La Niña - sobre a ocorrência e distribuição espacial de queimadas em vegetação natural no Quadrilátero Ferrífero (QFe), entre os anos de 1999 e 2024. A metodologia adotada baseou-se em uma abordagem quantitativa e exploratória, envolvendo a classificação dos anos segundo as fases do ENOS com base no índice ONI (índice Oceânico de El Niño), a análise de dados climáticos anuais e sazonais (temperatura, precipitação e umidade relativa) obtidos por sensoriamento remoto, a identificação e caracterização dos focos de calor registrados pelo (Instituto de Pesquisas Espaciais) INPE e a aplicação de análise espacial multicritério para avaliar a vulnerabilidade do território às queimadas. Os resultados revelaram que, em escala anual e sazonal, os anos de El Niño concentraram maior número e intensidade média de focos de calor. A análise espacial indicou que os focos coincidiram com áreas de maior vulnerabilidade — associadas a relevo suavemente ondulado, proximidade a rodovias e uso antrópico do solo —, mas também se concentraram em zonas de vulnerabilidade média, como a porção sul do território do QFe, onde há intensa atividade minerária. Portanto, conclui-se que o ENOS atua como importante modulador climático das queimadas na região, mas sua influência é amplificada ou atenuada por fatores físicos e antrópicos locais, os quais moldam os padrões de risco e ocorrência do fogo. A análise integrada permitiu compreender a complexidade da dinâmica das queimadas no QFe e destacar a necessidade de estratégias de gestão territorial mais eficazes e sensíveis à variabilidade climática.