É o gênero uma categoria útil ao ensino de história? : impactos dos negacionismos históricos sobre gênero e sexualidade no ensino básico brasileiro, 2013-2025.

Abstract

O presente trabalho discute como certas formas de negacionismo histórico que circulam na sociedade brasileira contemporânea têm afetado a realização de discussões sobre gênero e sexualidade nas aulas do Ensino Básico brasileiro, especialmente as de História. O trabalhou partiu de um questionamento sobre como modalidades de negacionismo histórico, impulsionadas pelo avanço da extrema-direita no Brasil nos últimos dez anos, têm afetado o ensino de história. Usando uma metodologia de pesquisa qualitativa em educação, pautada de perto por um olhar multicultural, pós e contracolonial, esboçou-se uma revisão da bibliografia pertinente ao tema, na forma de um exercício de crítica engajada, ou de uma prática crítica, na qual o momento histórico da ação política deve ser pensado como parte da história de sua forma de escrita, de maneira a permitir a aproximação epistêmica entre pesquisador e as fontes, rompendo com a ideia de que se faz necessária uma distância cognoscente para que a pesquisa tenha objetividade e, somente assim, alcançasse um estatuto de cientificidade. Assim, o conjunto da bibliografia selecionada foi dividido em três subconjuntos, referentes a A) o contexto histórico do Brasil na última década; B) os negacionismos históricos e a perseguição global aos estudos de gênero e sexualidade; e C) os ataques dos negacionismos de gênero e sexualidade na Educação Básica brasileira na última década. A investigação permitiu a produção de uma narrativa sobre os avanços dos negacionismos históricos no Brasil na última década, traçando suas estratégias para barrar, cooptar ou silenciar diversas iniciativas dos governos federais, desde a década de 1990, para promover uma educação para a diversidade. Avanços que não se desligam do aprofundamento da racionalidade neoliberal na sociedade brasileira, ensejando um esvaziamento do espaço público, a desdemocratização do Estado e o engendramento de sujeitos ultra individualistas, com foco apenas no empreendedorismo, na moral privada e na competição. Como conclusão, pensou-se que o cultivo do pluralismo historiográfico é uma via para se projetar uma condição comum aos sujeitos diversos e diferentes das sociedades capitalistas pósfordistas. Contar suas histórias contribui para o Bem Comum, ao conformar identidades eticamente fundadas na diferença.