Avaliação longitudinal da disponibilidade domiciliar e do preço dos alimentos em dois municípios de Minas Gerais.

Abstract

Introdução: A pandemia da COVID-19 no Brasil impactou a disponibilidade de alimentos nos domicílios brasileiros devido às interrupções nas cadeias de suprimentos, aumento nos custos de produção e desafios logísticos, resultando na variação do preço dos alimentos. Objetivo: Analisar a variação da disponibilidade e descrever a mudança de preços de alimentos em domicílios de escolares das redes públicas de ensino de Ouro Preto e Mariana, Minas Gerais, no contexto da pandemia da COVID-19. Método: Estudo longitudinal com amostra representativa de domicílios de escolares das redes públicas de ensino de Ouro Preto e Mariana. Os dados foram coletados em quatro períodos entre 2020 e 2022 por meio de entrevistas telefônicas com os responsáveis pela compra e/ou preparo dos alimentos e refeições no domicílio. A disponibilidade domiciliar foi avaliada com um questionário adaptado do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil e foi classificada em alta ou baixa. O preço dos alimentos foi obtido a partir de bases de dados regionais e calculando-se a média aritmética simples para os quatro momentos de coleta. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ouro Preto sob o CAAE: 32005120.6.0000.5150. As análises estatísticas foram realizadas no STATA com nível significância de 5%. Resultados: Foram acompanhados 281 domicílios, dos quais 79,4% encontravam-se com algum grau de insegurança alimentar, 47,1% eram da classe socioeconômica C, 65,1% vivenciaram redução da renda familiar em 2020 e 84,3% relataram fácil acesso para comprar alimentos ultraprocessados. Houve redução significativa na disponibilidade domiciliar de leite (p≤0,05) e, em 2022, verificou-se baixa disponibilidade de frutas (39,50%) e carnes (39,50%). A disponibilidade de ingredientes culinários manteve-se estável ao longo dos anos, enquanto os ultraprocessados, como o molho de tomate pronto industrializado (70,82%) e biscoitos (69,75%), tiveram alta disponibilidade domiciliar. O preço dos alimentos ao longo dos dois anos aumentou para os três grupos de alimentos: 58% para in natura ou minimamente processados (variando de R$6,04 para R$9,53), 19% para ingredientes culinários (de R$14,87 para R$17,65) e 9% para processados/ultraprocessados (de R$16,63 para R$18,10). Somente para o leite foi observada relação entre o aumento do preço e a redução da disponibilidade. Conclusões: O aumento dos preços está relacionado com a disponibilidade de alimentos nos domicílios, sendo este impacto mais evidente para o leite. Essa pesquisa reforça a importância de políticas públicas para garantir o acesso a alimentos adequados e saudáveis para o público infantil, especialmente em situações de calamidade pública.